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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O TEMPO DO ADVENTO



O Tempo do Advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o Tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa. Os domingos deste tempo são chamados 1º, 2º, 3º e 4º do Advento.

O conteúdo das leituras, especialmente do Evangelho, focaliza para os domingos um tema específico, em cada um dos três ciclos litúrgicos: a vigilância na espera de Cristo (1º domingo); um urgente convite à conversão, contido na pregação de João Batista (2º domingo); o testemunho dado a Jesus pelo seu precursor (3º domingo); o anúncio do nascimento de Jesus a José e Maria (4ºdomingo).

AS FIGURAS-MODELO DA ESPERA DO ADVENTO

Na liturgia do Advento emergem algumas figuras bíblicas que dão uma tonalidade para este tempo litúrgico: Isaías, João Batista, Nossa Senhora, São José.

a) Isaías. Uma antiqüíssima e universal tradição indicou para o Advento a leitura do livro deste profeta, porque nele, mais do que nos outros, encontra-se um eco da grande esperança que confortou o povo eleito durante os séculos difíceis e decisivos da sua história, sobretudo no exílio.

b) João Batista. É o último dos profetas e resume na sua pessoa e palavra toda a história precedente, no momento em que esta desemboca no seu cumprimento. Ele encarna bem o espírito do Advento. João é o sinal da intervenção de Deus em favor do seu povo; como precursor do Messias, tem a missão de preparar os caminhos do Senhor (cf. Is 40,3), de oferecer a Israel o “conhecimento da salvação”, que consiste na remissão dos pecados, obra da misericórdia divina (cf. Lc 1,77-78) e, sobretudo, de indicar Cristo já presente no meio do seu povo (cf. Jo 1,29-34). Não se pode falar de João sem falar de Cristo; por isso, a Igreja nunca invoca a vinda do Salvador sem lembrar-se de João, do qual o próprio Jesus fez o maior elogio: “Entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João”, embora “o menor no Reino de Deus seja maior do que ele” (Lc 7,28).

c) Nossa Senhora. O Advento é tempo litúrgico no qual, diferentemente dos outros, coloca-se em destaque a relação e cooperação de Maria no mistério da redenção. O Advento considera Maria especialmente em relação com a vinda do Senhor. Com a imagem bíblica da “filha de Sião”, a liturgia nos lembra que em Maria culmina a expectativa messiânica de todo o povo de Deus do Antigo Testamento; tal expectativa concentra-se nela numa relação mais ardente, numa preparação espiritual mais global para a vinda do senhor. O Advento, na sua imediata preparação para o Natal, recorda particularmente a divina maternidade de Maria. O Filho de Deus não desceu do céu em um corpo adulto, plasmado diretamente pela mão de Deus, mas entra no mundo como “nascido de mulher” (Gl4,4), salvando o mundo por dentro. Maria é aquela que, no mistério do Advento e da encarnação, une o salvador ao gênero humano.

d) São José. Dos textos bíblicos do Advento natalino emerge com humildade a figura de José, esposo de Maria, e justamente no momento mais significativo e delicado da sua missão de pai de Jesus. O “Mistério” de José é resumido em duas palavras do texto evangélico: “homem justo” (Mt 1,19).

A TEOLOGIA DO ADVENTO

O Advento recorda a dimensão histórica da salvação. O Deus da Bíblia é o Deus do evento, o Deus da história, o Deus da promessa e da aliança. Deus é aquele que age dentro de preciosos acontecimentos em sentido salvífico. O tempo torna-se como sacramento do agir de Deus. Com Jesus, o tempo chega à sua plenitude (Gl4,4) e o Reino torna-se próximo (Mc 1,15). O Advento é o tempo litúrgico no qual é lembrada a grande verdade da história como lugar da atuação do plano salvífico de Deus. O advento, portanto, é também tempo em que se evidencia fortemente a dimensão escatológica do mistério cristão. Com a sua liturgia, o Advento ajuda a passar de uma visão das “últimas coisas” em perspectiva individualista e estática, para uma visão escatológica dinâmica, que vê a história como lugar do agir das promessas de Deus e direcionada para o seu cumprimento no “Dia do Senhor”. O tempo da Igreja é um momento da atuação deste único evento e tem como característica o anúncio do Reino e o seu interiorizar-se no coração dos homens até a manifestação gloriosa de Cristo. Por isso, o Advento é também, por sua própria natureza, o tempo do aprofundamento do significado autêntico da missão. A Igreja “sacramento universal de salvação”(LG 28), não vive para si, mas para o mundo.

A ESPIRITUALIDADE DO ADVENTO

Toda a liturgia do Advento é apelo para se viver alguns comportamentos essenciais do cristão: a expectativa vigilante e alegre, a esperança, a conversão, a pobreza.

a) A expectativa vigilante e alegre caracteriza sempre o cristão e a Igreja, porque o Deus da revelação é o Deus da promessa, que manifestou em Cristo toda a sua fidelidade ao homem: “Todas as promessas de Deus encontram Nele o seu sim”(2Cor1,20). Em toda a liturgia do Advento ressoam as promessas de Deus, principalmente na voz de Isaías, que reaviva a esperança de Israel. A liturgia exprime sempre a realidade e quando, no Advento, assume a esperança de Israel, o faz vivendo-a em níveis mais profundos e plenos de atuação. A esperança da Igreja é a mesma esperança de Israel, mas já realizada em Cristo. O olhar da comunidade, então, fixa-se com esperança mais segura no cumprimento final, a vinda gloriosa do Senhor: “Maranatha: vem, Senhor Jesus”. É o grito e o suspiro de toda a Igreja, em seu peregrinar terreno ao encontro definitivo com o seu Senhor. A expectativa vigilante é acompanhada sempre pelo convite à alegria. O Advento é tempo de expectativa alegre porque aquilo que se espera certamente acontecerá. A vinda do Salvador cria um clima de alegria que a liturgia do advento não só relembra, mas quer que seja vivida. O Batista, diante de Cristo presente em Maria, salta de alegria no seio da mãe; a Virgem é convidada pelo anjo para alegrar-se com o grande anúncio que está para lhe ser dado; nas colinas de Judá, ela canta com alegria humilde o seu Magnificat. O nascimento de Jesus é uma festa alegre para os anjos e para os homens que ele vem salvar.

b) No Advento, toda a Igreja vive a sua grande esperança. O Deus da revelação de Jesus tem um nome: “Deus da esperança” (Rm 15,13). Não é o único nome do Deus vivo, mas é um nome que o identifica como “Deus para nós e conosco”. O Pai que entrega ao mundo Jesus, seu Filho, doa ao mesmo tempo a esperança ao mundo. Sem Cristo, os homens ficam sem esperança (Ef 2,12), porque Ele é a nossa esperança (1Tm 1,1), tão íntima que está dentro de nós: “Cristo em nós, esperança da glória” (Cl 1,26-27). O Advento é o tempo da grande educação à esperança: uma esperança forte e paciente; uma esperança que aceita a hora da provação, da perseguição e da lentidão no desenvolvimento do Reino; uma esperança que confia no Senhor e liberta das impaciências subjetivas e do frenesi do futuro programado pelo homem. O canto que caracteriza o Advento, desde o primeiro domingo, é o salmo 24: “A ti, Senhor, elevo a minha alma; em ti confio, meu Deus. Que eu não fique envergonhado, e meus inimigos não triunfem sobre mim! Os que em ti esperam não ficam envergonhados” (Sl 24,1-3). A Igreja vive, na esperança, a sua existência como graça de Cristo, inteira e unicamente ancorada na Palavra do Evangelho. Pelo mistério do Advento, essa Igreja é chamada a torna-se sinal concreto de libertação que é indissoluvelmente graça de Deus e livre resposta humana. Na convocação ao testemunho da esperança, a Igreja, no advento, é confortada pela figura de Maria, a mãe de Jesus. Ela que “no céu, glorificada em corpo e alma, é a primícia da Igreja, que terá sua realização na idade futura, brilha também na terra como sinal de segura esperança e de consolação para o povo de Deus a caminho, até que chegue o dia do Senhor” (2Pd 3,10).

c) Advento, tempo de conversão. Não existe possibilidade de esperança e de alegria sem retornar ao Senhor de todo o coração, na expectativa de sua volta. A vigilância requer luta, requer prontidão. O cristão, convertido a Deus, é filho da luz e, por isso, permanecerá acordado e resistirá às trevas, símbolo do mal. Os comportamentos fundamentais do cristão, exigidos pelo espírito do Advento, estão intimamente unidos entre si, de modo que não é possível viver a expectativa, a esperança e a alegria pela vinda do Senhor, sem uma profunda conversão. O espírito de conversão, próprio do Advento, possui tonalidades diferentes daquelas relembradas na Quaresma. A substância é essencialmente a mesma, mas, enquanto a Quaresma é marcada pela austeridade da reparação do pecado, o Advento é marcado pela alegria da vinda do Senhor.

d) Enfim, um comportamento que caracteriza a espiritualidade do Advento é o do pobre. Não tanto o pobre em sentido econômico, mas o pobre entendido em sentido bíblico: aquele que confia em Deus e apóia-se totalmente Nele. Estes, segundo a Bíblia são os mansos e humildes, porque as suas disposições fundamentais são a humildade, o temor de Deus, a fé. Eles são objeto do amor benévolo de Deus e constituem as primícias do “povo humilde” (cf. Sf 3,12) e da “Igreja dos pobres” que o Messias reunirá. Jesus proclamará felizes os pobres e neles reconhecerá os herdeiros privilegiados do Reino, e Ele mesmo será um pobre. Belém e Nazaré, mas sobretudo a cruz, são as diversas formas com que Cristo manifestava-se como o autêntico “pobre do Senhor”. O tempo do Advento é o tempo em que a Igreja e todo cristão são chamados a verificar este comportamento essencial diante da iniciativa salvífica de Deus. Maria emerge como modelo dos pobres do Senhor, que esperam as promessas de Deus, confiam Nele e estão disponíveis, com plena docilidade, à atuação do plano de Deus.